terça-feira, 23 de março de 2010

ANTÓNIO CASIMIRO



Nasceu,

cortaram-lhe o cordão umbilical, Deus mandou-o sentar no banco dos réus todo nuinho em cor de semana santa e leu-lhe a sentença da vida:


"Artista plástico serás"

Grande Cruz para carregar com a força atenuada da sensibilidade.

E, quando na pia baptismal com moleirinha pronta a molhar a língua,
iam salgar em primeiro passo para o colesterol
e receber o nome de entrada no rebanho, Almada Negreiros em toda a sua dimensão, alto falou apagando velas e ideias estabelecidas:

"Por sorte a vaca não tem apelidos de família para lhe complicar a vida."

Pelo sim, pelo não, rasuraram nome em calhamaço de sacristia
e com o andar do tempo tomou volume o seu nome de guerra:

António Casimiro,


que no dicionário da vida é sinónimo de justo, simples, amigo, sério, honesto, íntegro e em locução popular sujeito que não se engana nos trocos.

... La vem no Evangelho, na divisão entre artistas e levitas e samaritanos.

O levita olha a obra e passa.
O samaritano vê a obra e debruça-se sobre ela.
O levita é desnorteado, cata-vento de nortada, um naufrago apolítico
na procura de onda salvadora que o leve às sombras do poder.
O samaritano tem uma linha a marcar horizonte um norte,
é homem que o alto mar do sistema quer naufragar.

António Casimiro, o samaritano sensível, criador, toque de génio, inspirado
é um mágico "jongleur" cromático, uma audácia de arco-íris.
Nunca pensou que o Chiado ardesse, a Europa federasse
e o Miró o conhecesse.

Bom António,
o teu coração não é músculo, é "valise" de sensibilidade e sedução.

Aqui ficam estas palavras pensadas com verdade
e escritas com amizade como abertura de catálogo
de artista que se expõe expondo.


Artur Semedo
Março 1994

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